Julho de 1955: Carolina
mora na favela e tem três filhos para criar, dois meninos e uma menina. Marido
nem pensar, a maioria das mulheres na favela apanham de seus maridos, ela não
precisa de um, mas a ultima coisa que ela queria mesmo era morar na favela.
Sua
rotina é basicamente ouvir xingamentos de suas vizinhas, ouvir elas reclamarem
de seus filhos e até discutirem e baterem neles quando não está. Compra comida,
enche suas latas de água, cata papel, mas tem dias que o frio não permite. Sua
filha Vera Eunice já está com dois anos não gosta mais de ficar em casa,
precisa levar ela nos braços enquanto carrega a trouxa de roupas para lavar na
cabeça.
Maio de 1958: A
fome maltrata. Vera Eunice já está mais crescidinha agora quando sua mãe lhe
carrega ela bajula as mulheres nas ruas, as vezes ganha uns trocados. Os
políticos tão safados só aparecem nas favelas em época de eleição, dão algumas
coisas e depois que são eleitos se esquecem da favela e fazem cara feia. Não
queria comer coisas do lixo mas a fome apertava e não deixa a gente trabalhar,
só não pegava carne do lixo porque colocavam veneno para os pobres não comerem.
As crianças sempre querem mais, mas doí olhar para a panela e ver que não tem
mais.
Junho de 1958: Quando
Carolina consegue cozinhar mais de 4 pratos para seus filhos ela se sente
feliz, se a grana está pouca ela precisa fingir que não escuta para não ver
seus filhos pedindo coisas na rua porque se compra agora não tem o que comer
amanhã ou nem tem dinheiro para o ônibus. Fez questão de comprar um tênis para
Vera, a menina não gosta de ser pobre, anda precisando dar uma surra nos
meninos, pois, andam muito malcriados. Zuza deu uma festa para os favelados que
foram felizes da vida achando que iam comer, mas chegando lá só tinha pão e
alguns nem pães conseguiram. Cada vez mais tinham mais brigas na favela, os
nortistas, os baianos(No livro é usado para qualquer nordestino), normalmente
por causa de mulher. As crianças andavam ficando com vermes, e a fome?
Apertando.
Julho de 1958: Perto
da torneira sempre dá briga e fofoca, Carolina evita ir lá quando tem gente,
deixa para pegar água depois. Pensou em internar um de seus filhos, o João,
porque tentou abusar da filha da vizinha, mas falaram para ela voltar outro
dia, pois, dia 9 era feriado, no mesmo dia apareceu na favela dois meninos que
haviam fugido do abrigo, contaram como era horrível lá, instruíram os filhos da
dona Carolina a obedecerem. Não quer homens, somente suas crianças e escrever
seu diário, está muito velha para essas coisas. Deu briga feia na favela foi
necessário até chamar a Radio Patrulha, o Alexandre não aprende mesmo.
Agosto de 1958:
Não dão mais bolachas na fabrica, no frigorifico somente ossos, agora tem mais
gente catando papel então fica difícil... Mas ganha papel de vez em quando,
chegou a subir em um prédio de elevador para ganhar papel, ficou com medo
enquanto subia mas na volta a dona do ap pediu para seus filhos lhe acompanharem,
encontrou até com um senador no elevador na volta mas agora não tinha medo pois
tinha companhia das crianças. A fila da torneira aumenta cada vez mais, os
favelados se multiplicavam.
Setembro de 1958:
Fome. Sem papel, nem metais, agora tinha um carro que saia coletando antes de
coletar o lixo comum, estava mais difícil conseguir dinheiro. Precisou ir no
gabinete de investigação por causa do acontecido em Julho, sentiu-se na favela
do jeito que a mulher falava com o seu filho.
Outubro de 1958:
Foi votar e levou a Vera junto, falaram que não podia levar crianças mas ela
não tinha com quem deixar a pequena. Graças as eleições tinha bastante papel na
rua para ser catado, o moço que atualmente cuida dos bicos de luz estava
querendo aumentar o preço, os moradores não gostaram nem um pouco. Após as
eleições os preços também subiram como o da condução, o povo estava revoltado
então precisava andar um policial junto.
Novembro de 1958:
Ganhou um guarda-roupa velho e um colchão, uma dificuldade para carregar, os
homens da light só olhando e nenhum para ajudar. Apareceram uns ciganos na
favela mas logo foram embora mas já foi o bastante para deixar um odor ruim por
onde passaram. Seus filhos todos alfabetizados, José falava que futuramente
seria Sr.José, queria morar em uma casa de alvenaria.
Dezembro de 1958:
Um menino chegou embriagado na escola, o coitado só tem 12 anos. É época de
natal qualquer carro que passa na favela o povo pensa que é para dar coisas.
Carolina chegou a ficar muito doente, pensou até que ia morrer, mas melhorou
para a felicidade dos filhos e voltou a sua rotina de sempre. O padre que vive vindo
à favela fala que o povo precisa ter filhos, quem tem que ter filhos é os ricos
que podem alimentar seus filhos. Ficou amiga de um cigano, ele queria casar-se.
Janeiro de 1959:
Chove e a água acaba entrando no barraco porque o papelão do telhado já está
podre. O Cigano vai embora da favela mas anda desconfiada que ele fica indo
atrás da meninas da região, quando o mesmo voltar vai lhe apresentar a lei.
Fevereiro de 1959:
Teve briga feia na favela, de foice, o baiano que deu a foiçada fugiu para a
policia não prende-lo e para o outro homem não querer mata-lo, Carolina chegou
a encontra-lo fora da favela e insistiu que ele precisava voltar.
Abril de 1959:
Não andou escrevendo no diário porque estava desiludida com a vida.
Maio de 1959:
Matou o porco que estava engordando, não paravam de aparecer favelados querendo
um pedaço, mas deixou bem claro: Não vou dar nem vender, o porco é para os meus
filhos! Ficou com medo de invadirem seu barraco. O Pai de Vera deixava dinheiro
as vezes pelo juizado para a menina, o repórter chegou a levar Carolina para
tirar umas fotos, seu diário seria publicado na revista “O Cruzeiro” bem famosa
na época.
Junho de 1959: O
pai de Vera veio visita-la porque a menina estava doente, falou com as
crianças, deixou dinheiro e foi embora. A matéria na revista começava a
circular, os favelados reclamavam do que Carolina havia dito, o Orlando Lopes
da luz a odiava, como ela não quis pagar a luz mais o deposito ele cortou lhe a
energia. Esperava para receber quando o livro circulasse.
Julho de 1959:
Seu filho havia quebrado a vidraça de uma fabrica, a grana continuava sendo
pouca mas dessa vez o pai da Vera havia deixado dinheiro no juiz. Teve briga
feia do Alexandre com a sua esposa na favela, ela havia deixado cair seu
relógio... Carolina foi com a Vera comprar carne, deixou o saco de papel no
chão, pediu para sua filha segurar a carne e ela colocou em cima do saco, o
cachorro levou embora, hoje vocês não vão comer.
Agosto de 1959: A
dona Teresinha veio lhe trazer 500 cruzeiros, era a sua mãe branca! Estava
cansada de ocultar o nome do pai da Vera no diário, ele pedia para não escrever
seu nome mas as vezes não deixava o dinheiro para a menina e eram só 250
cruzeiros, ele é tão bem de vida! Vieram gravar “Promessinha” (Cidade Ameaçada)
na favela e tudo ficou uma bagunça.
Dezembro de 1959:
Espero que 1960 seja melhor que 1959.
Janeiro de 1960:
Levantei às 5 horas e fui carregar água.
Até a próxima!
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